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terça-feira, 17 de novembro de 2009

Transformar-se através da dança


A dança não só ensina a expressar-se através dos movimentos, mas contribui para transformação da realidade daqueles que a praticam. Foi com esse objetivo que surgiu o Ária social, projeto destinado a crianças carentes e de alto risco da região metropolitana de Jaboatão dos Guararapes, com o propósito de ensinar algo que não está tão disponível em suas mãos: cultura.


O projeto foi colocado em prática em 2004, 13 anos após a fundação do Ária Academia de Dança e Arte. A diretora Cecília Brennand que já lecionava aulas de dança fora da academia para crianças de comunidades carentes sentiu a necessidade de ampliar esse mundo da cultura quase que inatingível para esses indivíduos.

“O balé ou qualquer outro tipo de cultura tem um alto grau de investimento. São necessários profissionais com experiência específica e qualificada, vestimentas que custam caro, como as sapatilhas de ponta, além do pagamento das mensalidades nas academias de dança. Por isso é maravilhoso proporcionar todos esses benefícios a essas crianças”, declara Irani Garbuglio coordenadora pedagógica.

Dessa forma, não só trouxe esses alunos para dentro da academia como também inseriu novas modalidades a serem aprendidas por essas crianças. A academia conta com a participação de 420 crianças do projeto social, sendo 80 dessas da Instituição “Lar de Clara”. Porém, a academia também conta com 60 alunos que não fazem parte do projeto e pagam pelas suas aulas.

O projeto atende crianças de 4 até 18 anos, sendo dividido em três módulos. O primeiro com canto e dança, o segundo balé e dança contemporânea e o terceiro capoeira e percussão. Cada aula tem duração de aproximadamente 60 minutos e os alunos passam para a próxima fase depois de passarem por todas as etapas e de acordo com a sua desenvoltura.

Porém, para ficar no módulo 1 a criança precisa ter boa voz, o mínimo necessário para desenvolver-se, já que o coral é o carro chefe da escola. Com o espetáculo “Três Compassos”, esse coral já fez apresentações em todo o Nordeste.

Apesar de aceitar os alunos nessa determinada faixa etária, a coordenadora pedagógica Irani Garbuglio diz que já admitiu alunos de até 25 anos. “Precisamos de compromisso, se um aluno é dotado de um talento maravilhoso e pode se comprometer com a nossa rotina de aulas e espetáculos é lógico que não vamos deixar de admiti-lo”, afirma.

Para ser aceito na escola, o aluno preenche uma ficha de inscrição. Quando é adolescente, diz qual o seu interesse em entrar na escola, caso seja uma criança, esta será submetida a uma avaliação prática de canto e balé, com profissionais qualificados da área, para saber qual a área de atuação que ela tem condições de desenvolver-se. Depois de aprovado, para finalizar o processo, o aluno passa por uma avaliação psicológica e pela assistente social.

Luzeane Maíra, 13 anos, define sua entrada no projeto como uma vitória, já que tentou 3 vezes ser admitida na escola. “Foi uma vitória! Cada vez que fazia uma seleção esperava ansiosa o telefone tocar, até que finalmente fui aprovada”, revela.

Para Mariana Jéssica, 13 anos, foi a realização de um sonho, já que desde pequena olhava a escola de balé como um desejo inatingível, pois não tinha condições financeiras para pagar as aulas. “Desde pequena dizia a minha mãe que queria estudar balé naquela escola, fiquei realizada quando o projeto surgiu e pude realizar o meu sonho” diz.

O Ária social também promove um complemento educacional aos alunos, ou seja, oferece um suporte na área escolar. Esse apoio é realizado através de um professor de português, que não dá aulas de reforço, mas ensina leitura, produção e interpretação de textos.

As turmas maiores trabalham com introdução à literatura e a poesia, com o objetivo de desenvolver o hábito de ler, interpretar e escrever. Inclusive essas turmas já possuem produções de poesias que a escola irá montar um livro no final do ano.

Com esse apoio os participantes do projeto já apresentaram uma melhora de 80% no rendimento escolar desde o início desse ano. Esse acompanhamento é realizado através do envio da Xerox do boletim por cada aluno para academia a cada semestre. Com essa evolução, a escola já pensa no próximo ano em colocar um professor de matemática, raciocínio lógico e xadrez para melhorar ainda mais esse desenvolvimento.

O projeto conta com a parceria da ONG Casa da Criança, Instituto Ayrton Senna, que tem por finalidade o desenvolvimento do ser humano através da arte, e do CDI (Comitê para a democratização da informática) que promove aulas de informática aos alunos na própria academia com o pagamento de uma taxa de 15,00 reais.

O patrocinador maior até o ano passado era o Instituto Votorantim. Hoje, a Chesf assumiu a parte maior do patrocínio. Irani Garbuglio diz que a grande dificuldade no Brasil é para conseguir o patrocínio de um projeto desse porte ligado à cultura. “O custo de cada criança é de aproximadamente R$ 300,00, e já que o processo de desenvolvimento é lento, ninguém quer patrocinar. Todos só apostam no esporte”, afirma.

Irani ainda complementa dizendo que manter 420 crianças no projeto é muito difícil. Elas fazem suas refeições na escola, além de algumas até receberem passagem para ir e voltar da academia. “Algumas crianças passam o dia inteiro na escola e temos que dar subsídios para elas”, declara.

O Projeto Ária Social já mostra frutos do seu trabalho, visto que já possuem 3 professores que eram participantes do projeto. Como é o caso de Jonas, 18 anos, que entrou como aluno e hoje ensina aulas de pintura em tecido as mães que aguardam suas filhas na escola.

Lorena Cristina, 16 anos, diz que a dança é tudo em sua vida e com a entrada no projeto pode fazer o que mais gosta. “Sempre gostei de dançar e depois de um ano e meio no projeto descobri que quero fazer isso eternamente e quem sabe até ensinar aqui”, afirma Lorena.

É perceptível a contribuição desse projeto a esses alunos que provem de realidades difíceis, como pais alcoólatras, usuários de drogas e que conseguem através da dança e da arte enxergar um futuro diferente, próspero. Como afirma Maria Simone que tem suas filhas Nicole e Maria vitória de 8 e 10 anos respectivamente matriculadas no projeto. “Deveriam ter mais projetos como esse. “É uma cultura da qual não temos acesso, pois não temos dinheiro, mas que nos ensina muito” declara.



Um comentário:

  1. minhas filhas são alunas do Aria e a cada aula que passa vejo o desenvolvimento das mesmas esse projeto ajuda a muitas familias assim como ajudou a minha.

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